Alimentação e suplementação vitamínica durante a gravidez

Alimentação e suplementação vitamínica durante a gravidez

A importância do estado nutricional materno no desenvolvimento fetal e embrionário é reconhecida de longa data. Evidências demonstram que quantidade excessiva ou deficiente de determinados componentes nutricionais pode produzir efeitos adversos no feto. Nos últimos 20 anos o interesse e os estudos sobre esse assunto tem sido cada vez maiores. Fala-se hoje em dia sobre “A gravidez de 12 meses” pois estudos descobriram que o estado nutricional da mãe, antes da concepção também influencia na saúde fetal. Por isso, costumamos prescrever uma dieta balanceada quando a mulher para de tomar seu contraceptivo pra tentar engravidar e dependendo da alimentação dessa paciente, ainda prescrevemos mais suplementos.

PORTANTO A CRENÇA QUE VITAMINA ENGORDA CAIU POR TERRA! Entendem? Não há como refutar os estudos e tudo o que já se descobriu sobre a correta alimentação materna e seus efeitos no feto. Para a gestante que não se alimenta equilibradamente, deve-se tomar suplementos vitamínicos SIM, durante toda a gravidez e em cada fase há uma necessidade especial.
Mas entendam que tomar uma cápsula de vitamina pra grávidas por dia, não é o suficiente. É necessário mudar hábitos e se alimentar corretamente. Quando eu percebo que a paciente não sabe se alimentar bem, eu logo indico uma consulta com o nutricionista, onde ela será corretamente avaliada e orientada.
Há a necessidade de equilíbrio entre os alimentos. Quase nada está proibido, o problema é saber distribuí-los  corretamente. Assim sendo orientamos o seguinte:

* Beba bastante água. Em torno de 2 litros ao dia. (Não se esqueça que seu bebê está crescendo dentro da água… o líquido amniótico). Eu ainda falo que pra nós que moramos em Foz, uma cidade quente, necessitamos de mais água ainda.

* Consuma pelo menos três frutas ao dia, além de verduras no almoço e no jantar. O prato da grávida tem que ter a cor verde e ser o mais colorido possível, assim você estará ingerindo vários grupos de vitaminas e sais minerais importantes  além das fibras que são fundamentais pro funcionamento do intestino, que costuma ser mais preguiçoso na grávida (por causa da progesterona que também provoca o aumento dos gases). A queixa de prisão de ventre é muito comum na gestação, mesmo naquelas pacientes que não apresentavam isso antes. Como solucionar? Tomar muita água, comer verduras e frutas e quando necessário seu obstetra passará reguladores intestinais especiais pra grávidas. A atividade física como as caminhadas, também são excelentes, mas vamos falar disso num outro artigo.
Uma dica que gosto de dar, porque foi ótima durante a minha gravidez, é deixar pronta uma salada de frutas todos os dias e revezar os tipos de frutas. Um hábito saudável, não dá muito trabalho e você poderá mantê-lo após o parto.

* As proteínas são muito importantes nessa fase. A grande maioria das proteínas deve ser as de alto valor biológico, ou seja, aquelas que são facilmente digeridas e absorvidas. Essas são as de origem animal, encontradas nos ovos, leite e derivados. A carne vermelha é excelente, pois também é uma boa fonte de ferro. Imagine que você vai formar um bebê, com ossos, músculos, sangue, órgãos… e ele terá em torno de 3 kg! Isso vem muito das proteínas.

* Os carboidratos fornecem a energia e a glicose que o cérebro e o bebê consomem. Cereais, pães, massas e também batata, mandioca e similares são fontes de carboidratos. No entanto, não devem ser consumidos em excesso, pois a grávida não precisa de quantidade e sim de qualidade. Nada daquela história de “comer por dois“! Uma grávida saudável segue o lema “comer para dois”!

* Divida as refeições em 6 a 8 vezes por dia, em pequenas quantidades e mastigue sempre devagar. Consuma alimentos com baixo teor de gorduras e evite ingerir muitos líquidos durante as refeições, para facilitar a digestão e prevenir a azia.

 

Tanto na gravidez como na amamentação, as necessidades energéticas aumentam. As PROTEÍNAS E CARBOIDRATOS fornecem aproximadamente 4 kcal/g e as GORDURAS fornecem 9 kcal/g! Os estudos fixaram as necessidades diárias em 2.800 kcal na primeira metade da gravidez e em 3.300 kcal na segunda metade.

O ganho de peso ideal pra gestante é dado pelo índice de massa corporal (IMC) que é obtido pela relação do peso corpóreo em kg dividido pelo quadrado da altura em metros.

Peso (kg)

IMC=     ______________________
Altura²
Vou dar um exemplo: 64 kg, dividido por 1,66m x 1,66m = 23,22
IMC —————Classificação ————————Ganho de peso total na gravidez
< 19,8—————-Baixo peso ———————————–13 a 18 kg
19,8 – 26 ————Peso normal ———————————11 a 16 kg
26 – 29 —————Sobrepeso ———————————–07 a 15,5 kg
Acima de 29 ——-Obesidade ———————————–07 kg

Portanto vemos que o ganho de peso na gravidez para a mãe se resume em ter mamas maiores pra produzir leite, ter em torno de 2 litros a mais de sangue até o final da gravidez e uma reserva gordurosa de energia pra poder amamentar o bebê depois. Mas existem grávidas que já tem essa reserva (já estão acima do peso) e por isso só precisam engordar o peso do bebê, placenta, líquido, útero, sangue e mamas. Entenderam?
Repito, em muitos casos eu indico um nutricionista de tão importante que isso é!

Ainda falando de vitaminas e sais minerais vou falar todos os que a grávida e a mulher que amamenta precisam:

* VITAMINA A: importante na embriogênese e excelente agente antiinfeccioso. É encontrada nas verduras, frutas, leite e seus derivados.

* VITAMINA D: é fundamental no metabolismo do cálcio e do fósforo. Forma-se pela ação dos raios solares sobre a pele (que graças a Deus não faltam em nosso país).

* VITAMINA E: é importante contra os radicais livres e na microcirculação da placenta e nas trocas com o feto. É encontrada no trigo, aveia, gema de ovo, leite, manteiga, vegetais frescos, frutas e carne.

* VITAMINA K: é também chamada de anti-hemorrágica. Suas fontes são: espinafre, alface, batata, tomate, óleos vegetais, gema de ovo, carne de porco, fígado e frutas.

Todas essas vitaminas (A, D, E, e K) são lipossolúveis (precisam de um meio gorduroso para serem absorvidas).
Vou escrever agora sobre as vitaminas hidrossolúveis:

* VITAMINA C: sua deficiência na gravidez, pode levar ao abortamento, morte do concepto ou sangramentos gengivais. É encontrada principalmente nas frutas cítricas.

* ÁCIDO FÓLICO: é importante antes e durante toda a gravidez, prevenindo as anomalias abertas do tubo neural e durante a gravidez sua diminuição está relacionada com um tipo de anemia (megaloblástica). As fontes são as mesmas do complexo B.

*VITAMINAS B6, B12, B1: diminuem a incidência de enjoos, estão presentes na formação dos glóbulos vermelhos e brancos e influenciam o crescimento fetal. Suas fontes são carnes, levedura da cerveja, ovos, vegetais verdes, castanhas, ervilhas, soja, feijão branco e pão integral.

SAIS MINERAIS:
* CÁLCIO: é o quinto elemento mais abundante no corpo, presente em sua maior parte nos ossos. É fundamental pro funcionamento dos nervos, músculos, atividade cardíaca e coagulação sanguínea. Suas fontes são fartas, mas principalmente leite e derivados, sardinha e vegetais verde escuros entre outros.

* FÓSFORO: está ligado ao cálcio na formação dos ossos e é essencial para muitos outros tecidos, principalmente o nervoso. Sua insuficiência na gravidez  pode induzir o feto ao raquitismo. É encontrado no leite, queijo e peixe.

 

* IODO: sua deficiência na gravidez causa alterações na tireóide do feto como também retardo mental e físico. É encontrado no óleo de fígado, peixe e sal iodado.

* FERRO: sua deficiência na gravidez provoca a anemia que quando moderada ou grave, está associada com frequência aumentada de abortamento espontâneo, partos prematuros, recém-nascidos de baixo peso e morte perinatal. O ferro pode ser fornecido ao organismo por alimentos de origem animal e vegetal. O ferro de origem animal é mais bem aproveitado pelo organismo. São melhores fontes de ferro as carnes vermelhas, principalmente fígado de qualquer animal e outras vísceras (miúdos), como rim e coração; carnes de aves e de peixes, mariscos crus. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o leite e o ovo não são fontes importantes de ferro. Entretanto, no mercado já existem os leites enriquecidos com ferro. Entre os alimentos de origem vegetal, destaca-se como fonte de ferro, os folhosos na cor verde-escura (exceto espinafre), como o agrião, couve, cheiro-verde, taioba; as leguminosas (feijões, fava, grão-de-bico, ervilha, lentilha); grãos integrais ou enriquecidos; nozes e castanhas, melado de cana, rapadura, açúcar mascavo. O açaí é uma fruta muito rica em ferro. Também existem disponíveis no mercado alimentos enriquecidos com ferro como farinhas de trigo e milho, cereais matinais, entre outros.

* MAGNÉSIO: muito semelhante ao cálcio e ao fósforo e está armazenado principalmente nos ossos. A deficiência produz alterações neuromusculares como tremores e convulsões. Os vegetais verdes, as frutas, o farelo de trigo e a soja são boas fontes.

* ZINCO: é um componente da insulina. Tem ação na formação do DNA e RNA e é importante também na reprodução e formação dos dentes. As fontes são carne, fígado, ovos e frutos do mar, especialmente ostras.

*ÔMEGA 3: é uma gordura, boa pra nossa saúde e não é sintetizada pelo nosso organismo. É encontrada em alguns tipos de peixes de águas geladas como o salmão, cavala e arenque por exemplo. Precisa-se saber, que há salmões, criados em cativeiro e nesses a fonte de ômega 3 é bem reduzida. Se consumida em maior quantidade ou suplementada, principalmente a partir do segundo trimestre de gravidez, essa gordura é trasportada pela placenta e se deposita no cérebro e retina fetal contribuindo para o neurodesenvolvimento, psicomotricidade, visão, desenvolvimento intelectual e o peso fetal. Estudos concluiram que a suplementação de ômega 3 diminuiu os riscos de parto prematudo.

Concluindo, vemos por repetidas vezes a importância das frutas, verduras, leite, carnes e ovos na gravidez. Fiz questão de escrever, mesmo que o texto ficasse grande e cansativo, pra que se entenda o quanto a alimentação é importante não só na gestação, mas na vida toda. Nunca se falou tanto sobre alimentação! Alguns anos atrás não existia a profissão de nutricionista e nem a especialização médica de nutrologia. Nunca se estudou tanto sobre os alimentos e nós temos que abrir nossos ouvidos pra isso. Nossa saúde depende muito do que comemos.

Ficar comendo só lasanha, sanduíche, macarrão, pizza, refrigerante e todo tipo fast food e comidas industrializadas e não frescas com frequência, vai causar deficiências de vitaminas e sais minerais e suas consequências ruins à pessoa, à mãe e ao feto. Porém, não quero dizer que está proibido comer isso, ou aquilo, mas não coma alimentos pobres em nutrientes todos os dias. Reserve pra um dia que você for à uma festa ou jantar fora. Nesses casos sair um pouquinho da dieta de grávida, não vai fazer tão mal assim.

Outro ponto importante são os vilões SAL E AÇÚCAR! Diminuam bastante o consumo de sal, porque a grávida costuma ter inchaços e alterações circulatórias com frequência e o sal aumenta isso mais ainda. Além de estar relacionado com o aumento da pressão.

E o açúcar só vai te dar um ganho de calorias a mais. Nós conseguimos obter a mesma energia dos carboidratos, legumes e frutas, não precisamos de tantos açúcares por dia. Para sobremesa, prefira frutas e evite sobremesas elaboradas com muito creme, leite condensado, gorduras, etc.

Você não está proibida de comer doces. Mas diminua. Afinal, depois que ganhar o bebê, você quer voltar a ser a mesma mulher de antes e não ter muitos quilos pra perder.

Para finalizar, informo que a FEBRASGO (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) orienta que é obrigatório suplementar apenas o ÁCIDO FÓLICO e o FERRO durante toda a gravidez e os outros nutrientes e vitaminas somente em casos de gestantes mal nutridas.
Seu obstetra lhe perguntará sobre sua dieta habitual, seus hábitos, seus horários e suplementará o que achar necessário para o seu caso.